A Arquitetura no Renascimento


Chamamos de renascimento ao período que vai do meio do séc. XIV ao fim do séc. XVI. Havia uma arte original na Idade Média, entretanto, no Renascimento, os artistas esforçavam-se para esquecer tudo aquilo que havia sido feito na Idade Média e procuravam reproduzir as formas antigas. Mesmo assim, houve uma transição e os elementos góticos se misturaram aos clássicos, especialmente fora da Itália.

O estilo gótico representou, em outros países, o desenvolvimento gradual dos sentimentos dos povos que o produziam.

Entretanto, os princípios propriamente ditos, do estilo gótico nunca foram totalmente compreendidos ou mesmo apreciados na Itália, embora lá se encontrassem magníficos exemplos, mas permaneceram com a característica própria, diferentes do resto da Europa. Sua beleza consiste antes de tudo nos detalhes esquisitos e não nas estruturas que estes detalhes adornam e enriquecem.

Assim sendo, o Renascimento pode ser considerado, na Itália, como uma evolução pacífica no terreno da arte, cujas sementes germinavam e davam frutos nos domínios da pintura e escultura. Naturalmente os italianos lembravam que a Itália estava cheia de monumentos romanos e que descendiam do povo que produzira estas obras mestras. A arte de seus antepassados não era importada, como o “Estilo Gótico”, que se desenvolvia entre eles, um povo que já conquistara o mundo.

Outras informações influíram também no raiar do renascimento: o avanço da civilização, os requintes da inteligência e da cultura, a reforma na religião, o processo de impressão, tudo exigindo novas interpretações, pois que a elegância reinava agora sobre a rudez guerreira.

Os homens de letra, as famílias ricas, os Médici em Florença, os Sforza em Verona, os Gonzagas em Mântua, e por fim, a corte do papa, em Roma, protegiam os artistas, forçando assim a evolução de uma nova interpretação da arte clássica. A riqueza do comércio que então florescia, concorreu também para estes fatores renovadores.

Nessa época, descobria-se também a pintura a óleo e a gravura. Porém não foi só na Itália que tal movimento se processou, o mesmo passou-se na França, Espanha, Inglaterra, Alemanha e Holanda, onde nos túmulos e nos trabalhos decorativos pode-se notar e apreciar notáveis alterações na concepção e na execução. Na arquitetura tal evolução foi mais lenta. Era impossível deixar de lado repentinamente a forma construtiva do estilo gótico e a arte tradicional dos pedreiros. Nos túmulos, achavam os artistas um campo assaz ideal e limitado para dar razão às suas criações, porque não precisavam se deter em questões de utilidades e de construção. Em conseqüência disto, as primeiras manifestações do Renascimento se encontraram em túmulos como em Lê Mans e em Nantes na França e na Abadia de Westminster, expressos no trabalho de Torregiano. No princípio do Renascimento se desenvolveram as formas mais perfeitas em composição e beleza ornamental não só na Itália, mas também na França e na Espanha.

Venceram, rejuvenescidas as formas clássicas, influenciadas ainda pelas artes românticas e góticas, porém o método de construção gótico prevaleceu porque o método de construção em concreto dos romanos caiu em declínio na Idade Média. Assim sendo, pode-se dizer que de dois sistemas antigos nasceu um novo estilo que era gótico em construção e clássico em características. O aspecto mais marcante deste novo empreendimento foi o emprego novamente como elemento construtivo das ordens clássicas da arquitetura romana, padronizadas pelos arquitetos do Renascimento, especialmente Vignola. As colunas e os entablamentos foram adaptados para servirem às necessidades e às edificações, não copiando, absolutamente, os clássicos antigos. O estilo que daí evoluiu é a base da arquitetura hodierna. A arquitetura passou a ser estudada e formaram-se então as escolas. Passou a ser produto de estudos individuais, deixando de evoluir com simples transformação de métodos tradicionais. Começou a ser considerada como arte da forma antes que da construção, ao contrário da Idade Média onde a necessidade estrutural era o principal elemento.

Características e Estilo

  • Planos – Eram idealizados levando em consideração a simetria, conseguida graças às semelhanças das partes que ficavam de cada lado das linhas centrais axiais;
  • Interiores – Com recessos quadrangulares e abobados cruzados com uma cúpula central;
  • Naves – Divididas em pequenos recessos, que dão a impressão de maior espaço, como na Igreja de São Paulo em Londres;
  • Torres – Raras, ás vezes única e quando existentes são simétricas. A cúpula e o aspecto externo predominaram;
  • Telhados – Com pequeno caimento, devido à influência clássica, ou arredondados;
  • Aberturas – Arcada de arcos semicirculares, especialmente nas construções civis;
  • Arcos e Abóbadas – Semicirculares, de caráter romano;
  • Janelas – Em geral tem as linhas clássicas e eram pequenas devido ao clima da Itália;
  • Portas e Janelas – Colocadas em simetria umas acima das outras e
  • Paredes Externas – O tratamento varia em cada país. Na Itália são lisas com tratamento especial. Ás vezes há balaustrados. Na Inglaterra, Alemanha e França são altas. Sua construção era de alvenaria de pedra ou então de tijolo, em cursos regulares.


Ornamentação – Quase sempre os motivos eram procurados na mitologia clássica e em assuntos pagãos e cristãos.

O Estilo Barroco, bizarro, ou fantástico e o Rococó, pertencem ao fim do Renascimento. Representam o esforço dos artistas para se libertarem do convencionalismo que se pretendia impor.

Os exemplos dessa imposição foram os livros publicados por Serlio, Vignola e Palladio, regulando o emprego e as proporções das ordens do Renascimento.

Renascimento na Itália

É nos edifícios civis que a arquitetura deve ser analisada, no Renascimento.

Os palacetes residenciais são retangulares tendo em volta pórtico e galerias. A fachada em geral é severa. No primeiro andar se abrem janelas distribuídas com regularidade e simetria. Grande cornija. As casas são muito abertas, com terraços e jardins magníficos.

O Renascimento Italiano começou no princípio do séc. XV em Florença, de onde passou a Milão, Veneza e em tantas outras cidades norte da Itália. O primeiro arquiteto que estudou seriamente os monumentos da Arte Clássica e adaptou seu espírito a sua própria arte foi Filippo Brunelleschi. Admira-se seu poderoso espírito criador nos trabalhos realizados na construção da cúpula da Catedral de Florença e nas Igrejas de São Lorenzo e Espírito Santo, na mesma cidade.

Suas idéias foram seguidas por muitos outros arquitetos, podendo se analisar e admirar os trabalhos de Michelozzo, Sangallo, Sansovini e Pietro Lombardo. Também deve ser apreciada a Logia do Vaticano, pintada por Rafael, que se inspirou na rica decoração da Casa Dourada de Nero. Para este tipo de decoração deu-se o nome de "Rafaelina”. Em Florença também surgiu o tipo de Palácio que se tornou o padrão de toda a Itália.

Já em Veneza se combinou o Renascimento com a arquitetura antiga e originou-se então um tipo característico, menos severo que no resto da Itália: muitas janelas, influência oriental sensível.

Característica na Itália

a. Cúpulas – São calotas esféricas sobre
pendentes.

b. Emprego generalizado das ordens clássicas,
especialmente a cornija, superposições
de ordens. Combinações de arcos.

c. Ornamentação colorida nas fachadas.

d. Mármore branco e colorido na ornamentação.

e. Proporção de Ordens – foram fixados por
Palladio e Vignola, na sé. XVI.

f. Ordem Colossal – é uma inovação. Ordem
única abrangendo todos os andares, como
no Palácio de Valmarana em Vincenses.

g. Defeito freqüente nas fachadas: ordem exterior
não corresponde aos andares
interiores.

h. Arcadas – raras, com imitação gótica (Loge dês
Langi); muito freqüentemente a
imitação Bizantina (Palácio Riccardi); imitação
romântica; arcada caindo sobre uma
cornija (São Francisco de Rimini) arcada
caindo sobre uma coluna (Basílica de
Vicença).

i. Decoração interior – estuques coloridos e
pinturas afresco nas galerias e nos pórticos.


(Palácio Senhorial - Florença)

Edifícios Religiosos

A cúpula é o motivo desta espécie de construção onde predominam também as linhas horizontais e as cores. Não tem arcobotantes.

Arquitetura Civil

Na arquitetura civil os palácios municipais parecem fortalezas; possuem paredes com seteiras e ameias.

Renascimento na França

Podemos dividir o Renascimento Francês em três períodos: inicial, clássico e final. Mas esta classificação não é rígida e muitas outras divisões podem ser encontradas.

Período Inicial


Durante o reinado de Luís XI até Henrique III.

A principal característica deste período é a linha de transição que forma um conjunto assaz pitoresco pela continuação do gótico com o renascimento o que quase não aconteceu na Itália.

Vemos detalhes então do renascimento colocados em arcobotantes e em pináculos; predominam as ornamentações e verticalidade do gótico dentro do renascimento. Enquanto as edificações principais eram castelos construídos nas províncias e arredores de Paris, na Itália o renascimento florescia nas cidades.

O Renascimento Francês, nos períodos posteriores, aproximou-se mais dos padrões italianos.


Período Clássico

Compreendeu os períodos de Henrique IV e Luís XIV.

Foi sem dúvida, o grande período do Renascimento Francês. As ordens em todos detalhes especialmente a Dórica e Jônica, foram muito usadas. Nas decorações interiores se reconhece este período pela grande variedade com motivos de: rolos de pergaminho, ninfas, coroas, folhagem de cupidos que eram aplicadas em papel decorativo, em estuques, nos mobiliários, nas colunas, etc.


Período Final

Reinado de Luís XV e Luís XVI. Já se notava o começo das primeiras manifestações do estilo Barroco, que no início predominava nas igrejas construídas pelos Jesuítas. Surgiu então uma nova coluna, “Coluna Francesa”, imaginada por Philibert L’Lorme.

É suntuoso o Barroco na França, faustoso, presumido, triunfante e planejado com meticulosidade. No palácio de Versalhes assim como também nos jardins da França, pode-se apreciar o Barroco.

É a Luís XV e seus sucessores que se deve à decoração do rococó.

Renascimento na Espanha

O primeiro período do Renascimento na Espanha, chamado “Plateresco”, foi marcado pelas formas e configurações fantásticas da arte mourisca. O período Clássico foi influenciado pela arte romana. Neste período final, uma reação contra o formalismo imposto pelos então orientadores do período precedente se formou, advindo daí formas fantásticas, muitas vezes de mau gosto, mas de outras vezes de rara e verdadeira beleza. Foi também neste período que começou o estilo Barroco.

Renascimento na Alemanha

Foi necessário muito tempo para que este novo estilo de arte se formasse na Alemanha, vindo da França. Os arquitetos estavam de tais modos acostumados ao gótico que resistiram bravamente ao Renascimento. Só muito depois dos pintores Burkmair Holbien terem se iniciado nesse novo estilo, é que os construtores começaram a tirar deles suas inspirações. Com isto fica explicado o caráter bizarro que distinguiu o Renascimento Alemão do Italiano, no começo. Só muito mais tarde os artistas alemães, em contatos com os italianos aprenderam e assimilaram o Renascimento. Porém a guerra dos 30 anos e o protestantismo, inimigo de todos os tipos de decorações, impediu o uso do Renascimento nas edificações eclesiásticas. Este se limitou somente aos castelos e edifícios municipais. O Renascimento Alemão não tem um aspecto colossal, seus métodos limitam- se aos agrupamentos artísticos e ao tratamento de detalhes.

Ele também se dividiu em 3 períodos: primeiro período é aquele em que fizeram adições do Renascimento às estruturas góticas; renascimento médio, já menos gótico, com inúmeras edificações municipais; Barroco, quando usaram todas as ordens em muitas combinações; lutou com muita dificuldade para se implantar na Alemanha.

Renascimento na Inglaterra

Na Inglaterra, o estilo gótico foi o que mais resistiu em sua fase final, na época que era conhecido pelo nome “Estilo Tudor”. Conseguiu ainda enfeitar e até alterar os planos e os projetos que vieram a transformar e alterar os castelos e casas de campo. A primeira tentativa na Inglaterra deve-se a Torrigiano, responsável pelo belo monumento a Henrique VII e sua esposa e a Margaret de Richmond, ambos na Abadia de Westminster. O Renascimento na Inglaterra foi durante muitos anos confinado só ao enriquecimento das entradas principais. A principal característica real do Renascimento Inglês só se desenvolveu no começo do reinado de Elizabet e passou a ser conhecido com “Estilo Elizabeteano”, foi uma transição do Estilo Tudor para o Renascimento. Assim como na França e na Alemanha, se limitou às edificações seculares, castelos e casas, não atingindo os edifícios eclesiásticos. Há torres extremamente, parapeitos, balaustradas e chaminés.

Renascimento em Portugal

Com também na França, Espanha, Inglaterra e Alemanha, chegaram inovações do Renascimento, quando imperava ainda o estilo gótico. Isso sucedeu no reinado de D. Manuel. Esta é a principal razão de seu reinado ser chamado de “Estilo Manuelino”, o renascimento que lá teve seu desenvolvimento, com características tipicamente regionais.

São muito parentes, no Manuelino são: o Templo de Santa Maria da Vitória, na Batalha; o convento de Cristo, em Tomar; o Mosteiro dos Jerônimos e a Torre de Belém.

Os portugueses querem esforçosamente que se diga “Barroco” e acham que a palavra é portuguesa, aplicando-se com sentido de “irregular”. Outros ainda dizem que vem do Francês: bizarro, fantástico e dizem Barroco. Partindo do ponto de vista da arte, tudo em que a forma não corresponde à função é Barroco; uma coluna torta é barroca; pois sua principal função seria sustentar, etc.

Este estilo começou a surgir como reação às tentativas feitas por Serlio, Vignola e Palladio, que seguindo o trabalho d Vitrius, arquiteto de Roma Antiga, formularam os princípios que deviam ser norma para o emprego das ordens clássicas no Renascimento e especialmente após os livros que publicaram.

Nos trabalhos iniciais de Brunelleschi, Michelozzo e Alberti havia uma estrita aderência aos princípios que regularam os trabalhos dos arquitetos romanos, os quais usavam raramente o ornamento, a não ser nos capitéis das colunas e frisos.

Mas nos outros trabalhos e nos que eram confiados aos escultores, existia a tendência a menosprezar as estruturas e enchê-las de ornamento.

O Barroco nasceu em Roma, no Palácio do Senador no qual Miguel Ângelo empregou o Barroco, sendo uns dos primeiros a adotar o frontão interrompido. Na Igreja de São Pedro, em Roma, pode-se notar a ausência de escala e a falta de concordância entre o exterior e o interior.

Estilo Barroco e Estilo Jesuíta são a mesma coisa.

Podemos dizer que o estilo Barroco não é uma decadência e sim uma reação contra a aplicação rígida das suas características: frontões interrompidos ou sinuosos, colunas torcidas, cartuchos ovais com enormes rolos de pergaminho, máscaras com caretas horripilantes, figuras cujas posições parecem perigosas ou pouco estáveis. Interiores ornamentados em demasia e esculpidos, ostentando esculturas em atitudes contorcidas. Este estilo espalhou-se muito pelas vilas, casas, pontes e até mesmo terraços, expressando em suas estruturas a “alegria de viver”, estado de alma muito próprio daquela época.

Apesar de suas características alegres e concepções mundanas foi aceito com agrado pela arquitetura eclesiástica na Itália e em Portugal. Assim com também aqui no Brasil, podemos notar a sua influência nas nossas igrejas mais antigas.

O motivo de tal aceitação talvez seja o de terem os Jesuítas adotado a arquitetura da época, para com ela mostrarem o triunfo da igreja, que salvaram do ataque da reforma.

O certo é que o estilo Barroco teve sua época e enquanto reinou enfeitou com seus floreiros e requintes a arte no Renascimento.