Cara a Cara com a Morte – Versão 2

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 Quem é capaz de mudar?

Talvez o mais complicado seja dia após dia acreditar na própria mudança, já que são avassaladores os anseios e desejos de cada um. Por isso, é coerente ter plena consciência de que é um pobre coitado aquele que confia em si mesmo.

João Pedro era um assassino de aluguel; homem calculista e brutal, apesar disso, honesto e sincero – só matava aqueles que, segundo o seu senso de justiça, deveriam morrer.

Seu maior dilema era como se promover tal senso.

Parece contraditório. Quem sabe estes sentimentos fossem apenas desculpas da vida para dar uma chance para João seguir outro caminho?

Como ocorre com todos nós! Isto é, sempre temos uma chance; ou até mais, se ficarmos atentos aos sinais que a vida propõe.

 

A verdade é que João tinha um desejo ardente de mudar, pois não sabia como exercer seu senso de justiça. Dois desejos então se confrontavam: Sua consciência lutava contra a sua vontade de ser justo.

Sabia que era difícil, mas deveria se esforçar para mudar.

 

Contudo, apareceu um novo trabalho a realizar. Fazê-lo ou não?

Titubeou. Queria ser outra pessoa.

Seu colega, conhecendo o sangue quente de João, tentou convencê-lo:

-João. o cara é terrível, um bandido cruel e inconsequente. Você vai ter prazer em fazer o serviço.

 Resolveu fazê-lo, Não seria nem tanto pelo dinheiro, apesar de ser gratificante financeiramente... . Entretanto, seria a última vez!

Posto que algumas opções apareçam diante de nós, os homens preferem realmente ter liberdade, livre-arbítrio.

 

No momento em que através de uma tocaia pegaram o bandido de má-fama para dar cabo de sua vida, ele disse que se o livrassem, mudaria radicalmente de vida. Enfim, abandonaria o crime.

E João Pedro fez corpo-mole, e em profunda relutância, o deixou ir. Escolheu errar o tiro. Talvez seu colega contasse mesmo com a habilidade de João; as balas do seu colega também não foram suficientes... .

 

Depois de passar o susto, aquele bandido desumano e insensível voltou a fazer as mesmas coisas.

Não que João permitisse se enganar ou deixasse simplesmente uma fraqueza sobressair, mas existem RAZÕES as quais são muito pessoais, intransferíveis e intransponíveis.

É melhor se entender que há uma concordância, um ajustamento entre convicções, razões e finalidades. Afinal, as coisas incompreensíveis ao ser humano num período de tempo se manifestam para que com isso ninguém tenha mais pretextos para se justificarem dizendo que eles não têm oportunidade para aguçarem a percepção. Em outras palavras, muitas coisas acontecem e são de uma forma para que os homens não tenham mais justificativas.

 

João deveria fazer o serviço novamente, já que o bandido não mudara como havia prometido.  Agora ele iria sozinho; era uma questão de honra, de honestidade.

Oportunamente, quando o bandido fio pego, vendo que era impossível sair dali da mesma maneira, ele pediu de novo, e veementemente, que o deixasse ir.

O bandido prometeu com mais ênfase ainda que iria mudar. 

 

João deveria ter novamente misericórdia?

Estava convicto em matá-lo. Agora não tinha jeito. Era ele e o bandido, cara a cara. Era sua palavra em jogo!?

 Então perguntou ao bandido:

- Qual é o seu nome?

O bandido encarando-o, respondeu:

- Meu nome é João.

É! Uma vida deveria mudada ou um nome!

 

... um tiro na coluna deixou o criminoso irreversivelmente  paraplégico. Aí ele mudou!

 

Os leitores podem achar que esta história é dramática, no entanto, ressalto que a libertação de alguém não se dá pela ausência de paredes físicas.

Ah! Como foi a última vez para os dois, qualquer um tem o direito de supor que a situação imposta os obrigou a mudar.

 

Todavia, todas as duas vezes o ex-bandido foi sincero. E consoante às razões que se desconhece, tão restrita aos sentimentos e às convicções, foi a sinceridade do criminoso que moveu ambos os corações.

 

Visto quem eram aqueles homens, algumas pessoas chagaram a  acreditar que o sentido disso tudo teve implicações maléficas. De qualquer maneira, se existiu algum mal nisso, pode-se concluir com perspicácia que até uma ação boa pode ser motivada por uma atitude má.

 

 

 

Sesinando Fontes
http://sesinandofontes.blogspot.com.br/

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