Mostra Tutto Fellini Chega ao Rio

Estrela inativaEstrela inativaEstrela inativaEstrela inativaEstrela inativa
 

Exposição "Tutto Fellini" revela inspirações e bastidores do cineasta
Fotografias, revistas, filmes e muito material inédito do diretor são exibidos no Rio de Janeiro.

Link do vídeo

Responsável por construir um capítulo à parte na história do cinema mundial, Federico Fellini (1920-1993) conseguiu marcar para sempre a imaginação de muita gente com suas mulheres voluptosas, cenas circenses e paisagens oníricas.

Federico Fellini

Boa parte do que inspirou tudo isso está presente na exposição "Tutto Fellini", em cartaz na sede do Instituto Moreira Salles no Rio de Janeiro, que, de certa forma, invade o subconsciente do cineasta italiano, tema também de um ciclo com mais de 20 de seus filmes, como "Oito e Meio", "A Estrada da Vida", "As Noites de Cabíria" e "Ginger e Fred".

A mostra chega ao Brasil depois de passar por Paris, San Sebastián, Barcelona, Moscou e Toronto. Diretor do Museu de Elysée, na Suíça, o curador Sam Stourdzé demorou três anos (metade morando em Roma) para desbravar 25 mil fotos e documentos relacionados ao diretor. Desse total, cerca de 400 itens foram selecionados para o conjunto final.

"É a primeira exposição de Fellini em um museu de arte", garantiu Stourdzé ao iG, falando por telefone da Suíça. "Antes disso, não houve nenhuma, e ele nunca foi mostrado trabalhando, no contexto de todas as suas fontes de inspiração."

O resgate começa no primeiro emprego de Fellini, saindo da adolescência, como cartunista de um jornal satírico romano. Em seus primeiros traços, recém-chegado de Rimini, cidadezinha do interior, ele já mostrava figuras que iriam povoar seus filmes anos depois: mulheres grandes, homens pequenos e um humor todo particular. "Fellini já desenhava mulheres bem fellinianas, como Anita Ekberg [de 'A Doce Vida'], e ele nem tinha 20 anos", conta Stourdzé.

Pois essas figuras grotescas, de rostos estranhos e formas generosas, no futuro acabaram pulando para os filmes do cineasta. Já famoso, colocava anúncios nos jornais italianos com o seguinte texto: "Federico Fellini receberá a todos que queiram vê-los".

A convocação atraía pessoas extravagantes, digamos, e todo tipo de maluco interessado em falar com o diretor – caricaturas reais. Além de dar atenção, não raro Fellini os convocava para as filmagens, como prova a galeria de excêntricos na exposição.

As caricaturas eram só uma parte da obsessão de Fellini pelo desenho, que se dedicava à atividade o tempo inteiro – amigos, cenários, storyboards, tudo era alvo de seus traços. Esse material pode ser visto, assim como o "Livro dos Sonhos", registro diário praticamente inédito do que o diretor vivencia à noite.

"Quando não estava filmando, todos os dias, durante a vida inteira, ele trabalhava nele, para manter, talvez, sua inspiração funcionando,. Mas é mais do que um livro do sonhos. Ali pode-se encontrar muitas das figuras e atmosferas que depois estariam em seus filmes."

Uma ligação direta pode ser feita, por exemplo, com os comerciais que Fellini fez no fim da vida, em 1992, para um banco italiano. Num deles, um senhor de meia idade está almoçando com uma bela garota no campo e num piscar de olhos se vê amarrado numa estrada de ferro, com um trem vindo em sua direção, para enfim acordar e contar tudo a seu analista – Fellini era um grande admirador da obra de Carl Jung e da psicanálise.

Apesar de sua fascinação por sonhos, o cineasta, descobriu-se, tinha também uma ligação estrita com o mundo real. A ponte do diretor com a imprensa sempre foi clara – o termo paparazzi foi cunhado por ele em "A Doce Vida" (60) –, mas ele usava como referência muito do que lia em jornais e revistas. "Ele trabalhava com muito cuidado para alterar fatos que aconteceram na vida real e os colocava em seus filmes, fiquei muito surpresso em descobrir isso", comentou o curador.

"A Doce Vida" é uma prova cabal. Na cena de abertura, um helicóptero aparece carregando uma estátua de Cristo pelos céus de Roma.

Pois uma imagem idêntica foi encontrada numa cinereportagem, daquelas projetadas no cinema, gravada quatro anos antes em Milão – certamente Fellini a havia assistido. A sequência de striptease e o próprio banho de Anita Ekberg na Fontana di Trevi também não foram originais, mas baseados em casos similares retratados pelas revistas de celebridades da época.

Todo esse processo criativo está exposto em "Tutto Fellini", assim como um farto material de bastidores, a relação intensa do diretor com as mulheres e outras curiosidades. É o caso, por exemplo, de sua fascinação por histórias em quadrinhos: Fellini sempre sonhou em fazer um longa-metragem de Mandrake. Nunca conseguiu, mas vestiu Marcelo Mastroianni como o mágico numa fotonovela para a revista Vogue na década de 1970 e de novo numa passagem de "Entrevista" (1987).

Mastroianni, aliás, era claramente o alterego de Fellini nas telas. O diretor não concordava diretamente, mas sim, assumia a relação de forma enviesada. "Não é correto dizer que Marcello seja eu, meu dublê cinematográfico. Tento que se pareça comigo porque é meu jeito de ver de maneira mais direta o personagem e a história. É uma tarefa muito delicada, possível apenas graças a uma profunda amizade e um desejo exagerado de exibição", disse certa vez.

Em cartaz até junho no Rio de Janeiro, "Tutto Fellini" chega em São Paulo no mês de julho, no Sesc Pinheiros. A expectativa é de presença massiva do público brasileiro, que, assim como no resto do mundo, guarda um carinho especial pela obra do cineasta.

"Fellini era capaz de juntar coisas que normalmente seriam opostas e torná-las universais, a ponto de pessoas no Brasil, França, Itália ou em qualquer outro lugar se relacionarem sem problemas com seus filmes", comentou Stourdzé. "E quando tudo parecia completamente uma fantasia, se percebe que ele pegou emprestado. Mas por isso era um gênio, capaz de produzir imagens fortes que se tornariam parte de nossa memória coletiva."



Fonte: Último Segundo

 

 

Imprimir Email

  • /index.php/salas/65-espaco-cultural/noticias/644-fresco-de-leonardo-da-vinci-encontrado-escondido-em-outra-pintura
  • /index.php/salas/65-espaco-cultural/noticias/642-e-se-einstein-nao-tivesse-existido