Da Vinci
Síntese dos ideais estéticos que deram origem ao Renascimento, a obra de Leonardo da Vinci, genial pintor, escultor, engenheiro, arquiteto e cientista, foi um dos pilares sobre os quais se assentaram diversos domínios da ciência e da arte.
Leonardo da Vinci nasceu em Vinci, próximo a Florença, na Itália, em 15 de abril de 1452. Filho ilegítimo do notário florentino Ser Piero e de uma camponesa, foi criado pelo pai.
Ao revelar vocação para a pintura e o desenho, empregou-se como aprendiz do escultor e pintor Andrea del Verrocchio, por volta de 1467. Trabalhou com Verrocchio até 1477 e, nos quatro anos seguintes, sozinho.
Obras inacabadas são a marca e Da Vinci
Por volta de 1480 começou a pintar "São Jerônimo", que deixou inacabado. No ano seguinte mudou-se para Milão e trabalhou na "Adoração dos magos", encomenda dos monges de San Donato, em Scopeto.
Também inacabada, essa é a primeira tela que pode ser atribuída com segurança a Leonardo. Nela se percebe o gênio do artista que, embora se considerasse continuador direto de Giotto e de Masaccio, já não apresentava em sua pintura semelhança alguma com a tendência plástico-formal própria da escola florentina do Renascimento.
Engenheiro, pintor, escritor...
A serviço de Ludovico Sforza, desenvolveu vários projetos de engenharia militar, realizou estudos hidráulicos sobre os canais da cidade e, como diretor das festas promovidas pela corte, organizou competições, representações e torneios, para muitos dos quais desenhou cenários e figurinos. Dedicou-se também ao estudo da anatomia, física, botânica, geologia e matemática.
Nesse período, pintou algumas de suas obras-primas -- a primeira versão da "Virgem dos rochedos" (c. 1483) e a "Última ceia" (1495-1497) --, decorou a Sala delle Asse (c. 1498) e trabalhou numa estátua eqüestre de Francesco Sforza, jamais fundida em bronze.
Iniciou nessa fase a redação dos manuscritos do Trattato della pittura, cuja primeira edição impressa data de 1651.
Quando, em 1499, tropas francesas invadiram Milão, Leonardo voltou para Florença, já como artista consagrado.
Inconstante e atribulado
Em 1502 decidiu acompanhar Cesare Borgia na campanha de Romagna, como arquiteto e engenheiro militar.
No ano seguinte estava de volta a Florença, onde, durante o cerco de Pisa, desenvolveu um projeto para desviar o curso do rio Arno, de forma a cortar o acesso da cidade ao mar.
No mesmo ano, começou a pintar "Mona Lisa", uma de suas obras mais conhecidas e na qual a arte da pintura atinge um de seus grandes momentos. Iniciou também o quadro "Leda", conhecido apenas por intermédio de cópias, que parece ter sido o único nu de toda a sua obra.
Com Michelangelo, cujo prestígio já começava a superar o seu, decorou a sala do conselho do Palazzo Vecchio. Michelangelo pintou uma cena da batalha de Cascina, enquanto Leonardo pintava a "Batalha de Anghiari". Nenhum dos dois trabalhos foi concluído.
Ao sabor dos ventos
Entre 1506 e 1513 Leonardo novamente residiu em Milão, onde tornou-se conselheiro artístico do governador francês, Charles d'Amboise, e projetou para ele um novo palácio.
Com o restabelecimento da dinastia Sforza, Leonardo foi para Roma, em 1513, onde permaneceu sob a proteção de Giuliano de Medici, irmão do papa Leão X. Nessa época, aprofundou suas pesquisas ópticas e matemáticas.
Depois da morte de Giuliano, em 1516, Leonardo foi para Amboise (França), a convite de Francisco I, que o nomeou primeiro-pintor, engenheiro e arquiteto do rei. Continuou então os estudos de hidráulica, ao mesmo tempo em que organizou cadernos de apontamentos e preparou festas para a corte.
Leonardo, o pintor
No Trattato della pittura, Leonardo da Vinci defendeu essa forma de arte como indispensável à realização da exploração científica da natureza e aconselhou os pintores a não se limitarem à expressão estática do ser humano.
Utilizava, ao pintar, todos os seus conhecimentos científicos: suas figuras humanas derivavam diretamente dos estudos de anatomia, enquanto as paisagens revelavam o conhecimento de botânica e geologia.
Muitas de suas obras se perderam, foram destruídas ou ficaram inacabadas. Conhecem-se apenas cerca de 12 telas de Leonardo, de autenticidade indiscutível.
Ao longo de sua obra, é visível a importância cada vez maior que o artista concede aos contrastes entre luz e sombra, e, principalmente, ao movimento. Com o sfumato, que dilui as figuras humanas na atmosfera, Leonardo realizou síntese admirável entre modelo e paisagem.
A "Última ceia", um dos quadros mais famosos do mundo, foi muito danificada e sofreu diversas restaurações, motivo pelo qual pouco resta do original.
É inigualável, no entanto, a solidão de Cristo, em contraste com a agitação dos apóstolos, dividos em grupos de três. Judas, o traidor, é a única figura em isolamento entre eles. Os vários estudos e desenhos de Leonardo revelam a preocupação do autor com os menores detalhes da cena.
Uma obra dissipada
Pouco antes de morrer, no castelo de Cloux, perto de Amboise, na França, em 2 de maio de 1519, nomeou seu discípulo predileto, Francisco Melzi, herdeiro de todos os valiosos estudos, desenhos e anotações que deixava.
Melzi preservou cuidadosamente a herança, mas com sua morte, cerca de cinqüenta anos após a do mestre, os manuscritos se dispersaram. Conservaram-se cerca de 600 desenhos, que representam talvez a terça parte da vasta produção de Leonardo da Vinci.
Leonardo, o cientista
Leonardo voltou sua curiosidade para todos os campos do saber e da arte, e em cada um deles afirmou seu gênio.
Apesar de não ter realizado as grandes obras com que sonhava na pesquisa científica, a vasta informação contida em seus apontamentos e desenhos é suficiente para demonstrar a universalidade de seu saber.
Ao estudo da estática e da dinâmica dedicou algumas de suas pesquisas mais valiosas. Baseou-se na leitura da obra de Aristóteles e de Arquimedes, às quais foi um dos primeiros a acrescentar contribuição original.
Da Vinci estudou ainda as condições de equilíbrio sobre um plano inclinado e enunciou o teorema do polígono de sustentação da balança. Realizou pesquisas originais sobre os centros de gravidade -- no que antecipou-se a Galileu -- e idealizou uma máquina destinada a testar a resistência dos fios metálicos à tração. Ainda no domínio da física, estudou os efeitos do atrito e enunciou definições para força, percussão e impulso.
A partir do vôo dos pássaros, Leonardo determinou os princípios da construção de um aparelho mais pesado do que o ar, capaz de voar com a ajuda da força do vento. Entre seus desenhos incluem-se esboços de um aparelho bastante parecido com o helicóptero moderno e o esquema de um pára-quedas.
De sua atividade como projetista militar destacam-se os vários desenhos de canhões, metralhadoras, carros de combate, pontes móveis e barcos, bem como estudos sobre a melhor maneira de abordagem de um barco grande por um pequeno, o esquema de um submarino e bombardas. Leonardo inventou também máquinas hidráulicas destinadas à limpeza e dragagem de canais, máquinas de fiar, trivelas, tornos e perfuratrizes. Também antecipou-se aos urbanistas com seus projetos de cidades.
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