A Música no Romantismo

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Primeiro Romantismo

1820-1850


Se Beethoven e Schubert recuperaram a subjetividade perdida durante o Classicismo, ainda faltava uma barreira a ser transposta por seus sucessores: a rigidez formal. Assim, a forma-sonata e seus gêneros se tornaram os grandes vilões de uma nova geração de músicos que começava a ganhar peso - os primeiros românticos.

Mas essa luta por meios mais livres de expressão não ocorreu de forma homogênea. Desde muito cedo as opiniões se divergiram, formando os dois grupos que dividiriam o Romantismo até seu final: o conservador, que procurava aproveitar as formas clássicas e adaptá-las ao individualismo romântico, e o progressista, iconoclasta, que procurava criar novos gêneros, muito mais livres. Na primeira metade dos 1800, Felix Mendelssohn foi o líder da primeira corrente e Hector Berlioz, o da segunda.

Mendelssohn foi um menino-prodígio. Ainda criança começou a compor e atingiu a maturidade artística precocemente. Apaixonado pelo Barroco de Bach e Handel, foi ele quem trouxe a Paixão segundo São Mateus de volta às salas de concerto, após quase um século de esquecimento, regendo a obra em 1828. Seu estilo mescla harmoniosamente um lirismo tipicamente romântico nas melodias e uma arquitetura de inspiração clássica nas formas.

A carreira de Berlioz não foi tão bem-sucedida quanto a de Mendelssohn, mas certamente deixou um legado maior para a história da música. Quem desencadeou toda essa revolução foi uma mulher, a atriz irlandesa Harriet Smithson. Berlioz ficou perdidamente apaixonado por ela desde que a assistiu interpretando a Ofélia de Hamlet. Rejeitado, o compositor canalizou toda a frustração em sua obra-prima, a Sinfonia Fantástica.

A sinfonia foi um sucesso e é o primeiro grande exemplar de música de programa, isto é, música que conta uma história e tenta descrever apenas com sons situações extra-musicais. Os compositores mais progressistas começaram a achar que a música programática seria a solução ideal para enterrar de vez a forma-sonata: ao invés de exposição-desenvolvimento-reexposição, que tal seguir uma historinha?

Foi uma febre. Um dos que mais contribuíram para a consolidação dos programas foi o húngaro Franz Liszt. Liszt provavelmente foi o maior pianista que o mundo já conheceu. Aos nove anos, dava concertos com um virtuosismo e uma perícia técnica de dar inveja a muito adulto. Mais velho, adquiriu um carisma e uma teatralidade tão ou mais "demoníaca" que a de Paganini. Porém, diferentemente do violinista italiano, ele foi um dos melhores e mais inovadores compositores de sua época. No estilo da Sinfonia Fantástica, Liszt escreveu inúmeras obras que denominou poemas sinfônicos. Pronto, o novo gênero, um dos mais típicos do Romantismo, estava batizado.

Liszt demorou a ser reconhecido como compositor; era mais lembrado como um pianista de talento monstruoso. O caminho inverso seguiu Robert Schumann. Schumann queria ser um virtuose do teclado, mas uma súbita paralisia nos dedos o fez desistir do sonho. Azar dele, sorte nossa, já que direcionou seus dotes à composição. Schumann, no início de carreira, compunha peças para piano de formas muito livres e harmonicamente inovadoras. Parecia que desprezaria as tradições clássicas, mas não o fez. Mais velho, compôs sinfonias, quartetos e concertos que, se não eram obras tão conservadoras quanto as de seu amigo Mendelssohn, ficavam no meio do caminho.

O piano foi o meio de expressão favorito do Romantismo nascente. As principais obras de Liszt e Schumann, por exemplo, são para piano. Porém, o maior compositor de piano do período foi mesmo Frédéric Chopin. De índole retraída e melancólica, Chopin só compunha para piano solo. Foi o mestre supremo de gêneros como o noturno, a polonaise, o prelúdio, o improviso, a valsa, a balada, a mazurca, todos apaixonados, introspectivos e um tanto sombrios - exatamente como a música da primeira metade do século XIX.

Segundo romantismo

1850-1890


E a ópera? Enquanto cresciam a música orquestral, com os poemas sinfônicos de Liszt e Berlioz, e a música de piano, com as obras de Schumann e Chopin, a ópera era um gênero bastante decadente. A programação dos maiores teatros da época, como os de Viena, Paris e Berlim, era totalmente dominada pela chamada grand opera - as óperas espetaculosas de autores como Meyerbeer e Halévy. Dramaticamente inexistentes, musicalmente insignificantes, cheias de efeitos virtuosísticos fáceis e de lugares-comuns, elas obtinham enorme sucesso entre o público e acabaram fazendo com que músicos mais sérios deixassem a ópera em segundo plano.

Exceto um predestinado de nome Richard Wagner. Wagner lutou toda sua vida contra os excessos da grand opera. E triunfou. Em suas óperas, as melhores de todo o Romantismo, deu maior destaque à orquestra, eliminou a tradicional divisão entre árias e recitativos, escreveu textos de qualidade e introduziu o leitmotiv (motivo condutor, pequeno tema que identifica musicalmente situações, personagens, sentimentos). Mas a contribuição de Wagner não se limitou à ópera. Ele também revolucionou o minado campo da harmonia. O cromatismo (modulação constante de um tom a outro), utilizado em Tristão e Isolda e outras obras da maturidade, tornaria-se a base das experiências de Schoenberg e Stravinsky, e, por extensão, de toda a música moderna.

Wagner, pois, foi o grande papa da corrente progressista da segunda metade do Romantismo. Coube ao também alemão Johannes Brahms ser o expoente máximo da linha mais conservadora. Amante da música de Bach e Beethoven, Brahms seguiu as idéias moderadas de Schumann, pessoa com quem conviveu bastante na juventude e que foi o grande responsável por impulsionar sua carreira vitoriosa. Dessa maneira, recuperou gêneros já considerados "obsoletos", como a sinfonia, a sonata, a música de câmara. Grande estudioso de fuga e do contraponto, Brahms foi o maior arquiteto formal do século XIX, aliando seu grande perfeccionismo estrutural a um sentimentalismo todo pessoal.

Um dos maiores aliados de Brahms foi o tcheco Antonín Dvorák. Dvorák uniu a preocupação formal do mestre hamburguês a um forte nacionalismo, usando melodias folclóricas, danças típicas e ritmos populares do seu país em composições como sinfonias, concertos e quartetos de cordas. Esse nacionalismo também seduziu o compatriota Bedrich Smetana, o norueguês Edvard Grieg e os russos Nikolai Rimsky-Korsakov, Alexander Borodin e Modest Mussorgsky.

Mas o maior compositor romântico russo não foi um nacionalista: Piotr Illych Tchaikovsky, que provavelmente compôs as obras mais universais do período. Homossexual, Tchaikovsky sofreu bastante com o preconceito de seus contemporâneos e com as inúmeras desilusões amorosas por que passou. Essa difícil experiência de vida foi grande responsável por sua música, altamente emotiva, dramática, carregada de sentimentos contraditórios e desesperados. Tchaikovsky dedicou-se tanto a gêneros tradicionais como a sinfonia quanto aos mais "avançados" como o poema sinfônico. Uma de suas paixões, porém, era o balé, forma de arte negligenciada na época. Com obras-primas como O Quebra-Nozes, Tchaikovsky devolveu a dignidade merecida ao gênero.

Enquanto Wagner dedicou-se basicamente à ópera, o austríaco Anton Bruckner fez de seu campo de batalha a sinfonia. Mas uma sinfonia diferente da de Brahms, Dvorák ou Tchaikovsky. Bruckner queria compor sinfonias tão imponentes quanto as óperas wagnerianas que admirava. E assim o fez. Ele escreveu onze sinfonias (nove numeradas e duas rejeitadas), todas muito grandes, expansivas, verdadeiras "catedrais de som", obras onde a presença de Wagner facilmente é notada. Presença, aliás, fundamental também nas sinfonias compostas no início do século XX, que constituirão a ponte entre os ideais românticos e as inovações futuristas: o Pré-Modernismo.

 

 

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