O Presente

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(Conto de Natal)



- Mamãe, Papai-Noel existe? – perguntou a filhinha, com aqueles olhos azuis intensos, olhando para mãe.

- Por que essa pergunta, minha filha?

- Porque eu já mandei várias cartinhas para ele e nunca respondeu. E eu queria tanto ganhar aquela boneca que fala.

- Vai ver que ele tá muito ocupado e não consegue atender a todos que escrevem.

- Pode ser isso, né mãe? Vou brincar lá fora então.

E saiu correndo, mas deixando sua mãe pensativa.

Já fazia três meses que seu marido deixara a casa e não sabia o que fazer e nem o que dizer para Aninha, sua filha, a não ser que o pai estava viajando e logo voltaria.

Mas tomou uma decisão. Juntou de suas economias o máximo que poderia gastar para não comprometer o orçamento, e ia tentar comprar o presente para filha.

Aproveitaria o seu dia de folga, pois trabalhava como diarista. Depois que deixou a filha na creche saiu para ver o que conseguia arrumar.

Andou por várias lojas e até agora a situação era de desanimar, O preço mais baixo que conseguiu encontrar pela boneca era de R$ 210,00. E ela só podia gastar R$ 50,00.

Ia tentar pela última vez. A loja que faltava era a “Loja do Noel”, mas sabia que também os preços eram desanimadores.. Mas enfim...

Ao entrar na loja ficou deslumbrada. Era o sonho de qualquer criança. Brinquedos uns mais belos do que os outros. “Esse lugar não é pra mim. O que estou fazendo aqui?” – pensou consigo.

O vendedor já ia atendê-la, quando o patrão percebendo que a pessoa era humilde, disse:

- Alfredo, deixa que eu atendo essa senhora. Parece que está meio perdida.

E aproximou-se. Observou que ela estava maravilhada com os brinquedos.

- Boa tarde, minha senhora! Em que posso ajudá-la?

De repente desligou-se dos pensamentos e voltou à realidade.

- Desculpe. Estava admirando os brinquedos belíssimos que existem nessa loja. Devem ser muito caros, não?

- Temos de vários preços. O que a senhora tem em vista?

- A minha filha gostaria muito de ganhar uma boneca que fala a que aparece muito em propagandas.

- Deve ser aquela ali. A “Sorrisinho”.

-É aquela mesma. Qual o preço?

-É R$ 180,00.

Então ele percebeu o ar desanimado que ela fez. Mas continuou a conversa.

- Quanto a senhora poderia gastar?

- O máximo R$ 50,00. Poderia fazer a prazo, mas pesaria no orçamento.

- Tem que ser essa? Não poderia ser outra de menor valor?

- Pode sim. Mas o sonho de minha filha é ganhar essa boneca. Mas tudo bem. Ela não é enjoada e vai gostar de outra. Qual o senhor tem?

Com paciência mostrou as outras bonecas e ela acabou comprando uma de R$ 35, 00, embrulhada para presente com muito carinho.

À noite Aninha aproximou-se da mãe, e com aquele jeitinho todo doce de criança, falou:

- Já vou dormir mamãe. Boa noite.

- Boa noite, filha. Faça a sua oraçãozinha, tá?

- Tá bom.

Sem a filha perceber aproximou-se da porta e expiou a filha. Ela estava ajoelhada à beira da cama fazendo sua oração.

- Papai do céu. Se eu não recebi o meu presente é porque não fui muito boazinha, né? Mas não faz mal. Peço para o senhor proteger minha mãe e que ela não precisa se preocupar com meu presente. Qualquer coisinha serve.  E que o papai volte logo da viagem. Amém.

E foi dormir.

Uma lágrima correu da face de Laura que escutou tudo. Fechou a porta em silêncio e foi dormir. Ver se conseguia dormir.

Laura acordou cedo, mas foi como não tivesse dormido.

- Mamãe, mamãe! – entrou Aninha no quarto, toda esbaforida.

- O que foi?

- Manda a cartinha para o Papai Noel para mim?

- E se ele não mandar presente outra vez?

- Acho que agora ele vai mandar.

Não custava fazer o gosto da filha. Saindo para o trabalho deixaria a cartinha no correio.

Andando sem pressa foi pensando como seria bom se conseguisse um trabalho fixo, que ganhasse um pouquinho mais para ajudar a cuidar melhor da filha.

Os preparativos para o Natal já estavam adiantados. A cidade toda iluminada, enfeites que deixava ela mais bonita. Famílias recebendo os parentes e o clima de alegria tomava conta de todos. Mas para Laura e Aninha seria um dia como outro qualquer.

Véspera de Natal. Sozinhas já se preparavam para ir dormir quando o bateram à porta.

Quem seria àquela hora? Assustada Laura chegou à porta.

- Quem é?

Responderam:

- Um amigo. Pode abrir que não tem problema.

Resolveu abrir. Surpresa, não acreditou no que estava vendo. Um senhor gordo, todo vestido de Papai-Noel surgiu a sua frente.

-Oh! Oh! Oh! Feliz Natal a todos! Eu quero conhecer a Aninha. Ela está?

- Filha, venha ver quem está aqui!

Ela veio correndo e ao vê-lo começou a chorar. Não sabia o que falar.

- Você que é a Aninha?

- Sou.

- Me dá um abraço?

Não precisou falar. Logo estava abraçando o “bom velhinho”.

- Trouxe-lhe um presente. Espero que goste.

Toda entusiasmada abriu logo o pacote.

- É ela mamãe! A boneca que eu queria! Não falei que ele vinha?

Sem saber o que falar Laura agradeceu.

- Não tem o que agradecer. E este é para você.

Deu-lhe um envelope e pediu que o lesse com atenção.

- Obrigada, vou ler sim.

Despediram-se e o “Papai-Noel” foi embora lhes desejando um feliz Natal.

Laura sentou-se e foi ver o que continha o envelope. Tinha uma cartinha e logo começou a ler.

Lágrimas começaram a rolar pela sua face não acreditando no que lia. Era uma oferta de emprego na Loja do Noel, com carteira assinada e todas as garantias.

Laura chamou a filha, abraçou-a e disse a ela:

- Papai-Noel existe.

E a filha:

- Jesus também, né mãe?

- Com certeza filha, com certeza.

Era o melhor Natal que poderiam imaginar e que nunca iriam esquecer.



lmorete

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