A Literatura na Era Clássica

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Consideramos Era Clássica todo o período anterior a Cristo até mais ou menos o séc.: IV (d.D.). É uma fase da história em que a arte valorizava os padrões de beleza, a natureza e a razão. Sempre que nos referimos a esta fase, pensamos nas obras A Ilíada e A Odisséia de Homero. Verdadeiras obras primas do mundo helênico que fazem o homem conhecer melhor este período que é considerado o berço da literatura mundial. Ilíada e Odisséia são dois poemas épicos, cada um deles constituído por XXIV cantos, escritos em grego antigo e pensa-se que tenham tido uma longa vida na tradição oral antes de terem sido passados à escrita. Há provas arqueológicas de que toda a história da Guerra de Tróia se baseia em fatos verídicos, embora a guerra verdadeira tenha sido uma simples escaramuça, longe da grandiosidade épica dos poemas. Como introduções à mitologia clássica estes seriam demasiado confusos. Cada um dos deuses, interveniente ou invocado, é tratado por vários nomes e as relações existentes entre eles são várias vezes referidas, muitas vezes subentendias mas raras vezes explicadas. A mitologia clássica é muito complexa: sugere-se a consulta de um bom dicionário de mitologia, ou a leitura das obras em edição destinada a estudantes, com apêndices explicativos.

Odisséia e Ilíada

(autoria atribuída a Homero)

A Ilíada, cujo título deriva do nome grego de Tróia, Ilíon, conta como os gregos das várias cidades-estado da Grécia se unem, apesar de nem sempre terem sido aliados, para cercar Tróia, pois Páris, príncipe de Tróia, raptou Helena, filha de Leda e do próprio Zeus e mulher de Menelau, Rei de Esparta.

O enamoramento de Zeus por Leda, o nascimento dos quatro filhos desta relação, bem como o motivo pelo qual Páris raptou Helena e ainda a história do nascimento de Páris, abandonado à nascença porque sua mãe sonhou que o filho que trazia no ventre havia de incendiar Tróia são, por si próprias, três histórias completas e complexas.

Para partir a caminho de Tróia, os navios gregos precisam dos ventos a seu favor. Para os obter, Agamémnon sacrifica a sua filha, Ifigénia, cumprindo assim outro dos capítulos da maldição dos Átridas, que se iniciou muito antes dele e só terminará muito depois – e que é, em si mesma, uma outra história.

Os Troianos, cercados, resistem durante dez anos, apesar de os gregos terem nas suas fileiras alguns heróis magníficos, como Aquiles, filho de Peleu, um mortal e de Tétis, uma deusa, herói mortal mas invulnerável com exceção de um pequeno ponto, no calcanhar, por onde sua mãe o segurou, ao mergulhá-lo no rio Estige; ou Ulisses, Rei de Ítaca, também chamado Odisseus, o das mil manhas, homem de grande capacidade inventiva e o obreiro da vitória dos gregos; e ainda os Argonautas.

A história de como Jasão embarcou no navio Argos para roubar o Velo de Ouro ao Rei da Cólquida, ou de como este Velo aí foi parar, ou de como um dos Argonautas, Políctetes, foi abandonado pelos seus companheiros numa ilha, onde, muitos anos depois tiveram que ir buscá-lo, pois ele possuía o arco de Herácles, indispensável à vitória dos gregos, ou de como Políctetes obteve este arco, são também histórias completas.

A Ilíada está incompleta e termina com os funerais de Heitor, príncipe troiano, morto por Aquiles.

A história continua na Odisséia, palavra que deriva de um dos nomes dados a Ulisses (Odisseus). Embora o enredo central da Odisséia seja a viagem de regresso de Ulisses à sua ilha de Ítaca, esta viagem prolonga-se por dez anos, já que, ao enganar e ferir o Cíclope Polifemo, filho de Neptuno, Ulisses provoca a ira deste deus que usa os mais diversos estratagemas para o impedir de chegar rapidamente ao seu reino.

Em Ítaca, entretanto, vários pretendentes à mão da rainha, que já todos consideram viúva, instalaram-se no palácio real, esperando que ela se decida por um deles. A rainha, Penélope, prometeu escolher um dos pretendentes tão depressa acabe uma mortalha que está a tecer para seu sogro, Laertes. No entanto, convencida como está de que Ulisses não morreu e decidida a manter-se-lhe fiel, Penélope desfaz todas as noites o que teceu durante o dia.

Através de diversos artifícios narrativos, é na Odisséia que se sabe como os gregos venceram a guerra de Tróia, graças ao estratagema, engendrado por Ulisses, de fingir retirar deixando na praia um cavalo de madeira, como oferta aos deuses de Tróia, mas em cujo ventre se ocultam alguns soldados gregos que, nessa noite, quando os Troianos dormem, depois de terem festejado a sua suposta vitória, abrem as portas da cidade.

Lacoonte, um troiano que avisara os seus compatriotas do perigo que aquele cavalo representava, foi devorado por serpentes monstruosas saídas do mar. A frase com que Lacoonte avisa os troianos, tornou-se, na tradução latina, uma citação célebre ”Timeo Danaos et dona ferentes.”, o que significa “Receio os gregos e os presentes que deixam” ou numa tradução mais livre e que assume o significado com que, atualmente, a frase é citada “Desconfio do inimigo que me dá presentes.”

Após muitas e variadas peripécias que tornariam este artigo mais longo do que já é, Ulisses desembarca na sua terra natal. Aí encontra o seu filho, Telémaco, que deixou em bebé e que, entretanto, descontente com a situação em Ítaca, partiu em busca do pai que acaba por encontrar.

Vinte anos passados sobre a sua partida, só dois seres reconhecem Ulisses: Argos, o seu cão, que morre de alegria por voltar a ver o dono e que é o símbolo máximo da fidelidade e da devoção destes animais; e Euricleia, sua velha ama. Disfarçado de mendigo, assiste ao banquete no fim do qual Penélope, que uma escrava denunciou aos pretendentes, terá de escolher o sucessor de Ulisses. Ela informa-os de que só casará com aquele que for capaz de, dobrando o arco de Ulisses, enviar uma seta através dos orifícios alinhados das lâminas de vinte machados. Nenhum consegue sequer dobrar o arco. É então que Ulisses, ao conseguir a proeza se dá a conhecer, expulsando os pretendentes de sua casa e retomando a sua posição de Rei.

Ficam por contar histórias interessantes como a forma através da qual Ulisses foi convencido a juntar-se aos restantes gregos, ou o estratagema que inventou para reconhecer Aquiles que a deusa Tétis, sua mãe, escondera, disfarçado de rapariga, entre as muitas filhas de um rei, ou de Cassandra, irmã de Páris, que uma maldição condenava a profetizar sempre a verdade mas a nunca ser acreditada por quem a ouvia e muitas outras, cada uma das quais traz atrás de si outras histórias.

 

 

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